Caso lhe fosse concedido o dom de expressar-se por palavras, ele sem dúvida clamaria por compreensão. Ele, o medo, nos protege, pode ser o portão que nos impede de atravessar espaços alheios ou simplesmente de fazer tudo que queremos e julgamos ser certo, como se o nosso julgamento fosse suficiente ao bem comum. Talvez seja o limite entre fazermos as pessoas ao nosso redor felizes e destruir suas vidas com medidas egoístas que não podem ser bem interpretadas.
Às vezes o odiamos tanto que se quer percebemos que talvez seja ele a explicação para ainda não termos jogado tudo para o alto, ele é aquele mesmo sentimento que não nos deixa pedir ajudar quando já se esgotaram as possibilidades, é o mesmo receio que parece recolher nosso braço quando deveríamos estender a mão para um possível aliado, também pode ser aquele que ajuda o espelho a nos convencer que estamos bem sozinhos, como se não precisamos de nosso vizinho, este nobre sentimento que interpretamos como fraqueza para o perfil do novo mundo capitalista, competitivo, individualista e globalizado, é o mesmo que não nos deixa envelhecer sozinhos.
Não falamos do medo mórbido que paralisa o homem, que impede o progresso, que o impede de aceitar o novo, de experimentar outras possibilidades e arriscar quando todos dizem que não vamos conseguir, não é aquele que nos mandar ficar quietos, quando o que queremos mesmo é gritar, tão pouco o sentimento que nos impede de ser o que realmente somos não aquela coisa que nos obriga a usar máscaras, muito menos que nos impede de acreditar que o Sol sempre irá nascer, pois contra esse medo é mesmo aconselhável lutar.
Sentimos medo por diferentes razões e desde os primórdios dos tempos, lutamos contra isso como se fosse o mais triste defeito humano, contudo, independente de seu valor ou de como o julgamos, ele é mesmo inerente a natureza humana, e nem o mais pretensioso dos mortais pode afirmar não precisar dele. Quem sabe algum nobre corajoso se arrisque a dizer que não tem medo de nada, a este poderíamos dizer que a coragem não é nada além do controle do medo, e não a ausência dele.
O fato determinante a este respeito é que ele é decisivo na aquisição do equilíbrio mental, espiritual e físico do ser humano, estabelecendo muitas vezes, mesmo que inconscientemente, o limite entre o que desejamos e o que realmente podemos fazer.
Todos os dias quando levantamos e saímos de casa precisamos tomar decisões, afinal quase sempre somos o que escolhemos, vivemos pelo que optamos em determinado momento de nossas vidas, com justa exceção aquelas pessoas que se quer tiveram alguma chance de escolher seu próprio caminho, algumas dessas decisões são pouco relevantes, outras, porém, determinará nossa profissão, casamento, descendência, lugar que vamos morar, como gastaremos nosso tempo e recursos, e principalmente que mundo construirá. E qual de nós nunca sentiu algum medo frente a decisões que mudariam para sempre toda nossa vida?
Portanto, próxima vez que sentir medo, não seja tão rápido em julgá-lo desnecessário, lembre-se que ele pode ser nosso melhor conselheiro, afinal nos colocamos a refletir quando o sentimos, lembre-se também, que por mais que você não queira ele sempre estará ao seu lado, pois não há homem sem medo.
Não precisamos esconder o que somos; medrosos apaixonados pela sensação de que podemos ser mais fortes que ele, o medo.
Adriano Barros.
Adriano Barros |